História da Freguesia
A costa ocidental das Flores terá começado a ser desbravada em meados do século XVI, com os primeiros núcleos populacionais estáveis a surgirem nas primeiras décadas do século seguinte. Os primeiros povoadores eram capitaneados por João Soares, oriundo do lugar dos Mosteiros da ilha de São Miguel, que se terá fixado no Lajedo. Esta localidade será assim o povoado mais antigo da costa ocidental florentina e foi a partir dele que o povoamento irradiou para norte, levando ao aparecimento das povoações que hoje constituem as freguesias do Mosteiro, Fajãzinha e Fajã Grande.
Gaspar Frutuoso informa que este João Soares “Por suas mãos fez, calafetou e breou um batel, sem nada saber destes ofícios, em que ia com sua mulher e filhos ouvir missa à vila das Lajes. Diziam dele que, quando tornava a sua casa, dizia à filha mais velha que pusesse o batel em cima, e ela o tomava à cabeça e o punha onde queria, por ser muito pequeno e mal feito, mas servia-lhe, pelo caminho ser trabalhoso, e muitas vezes este João Soares, ia se às Lajes no barquinho e, às vezes, pescar nele”.
É ainda Gaspar Frutuoso quem ao descrever a localidade regista a existência de “dois ilhéus no mar, afastados de terra um tiro de besta, que têm pouco mato em cima, onde criam diversas aves, e entre eles e a terra há ancoradouros de navio, e ao nível com o mar, corre uma ribeira, onde abicam as barcas dos navios e dentro enchem as pipas de água, sem as tirar fora. Chama-se a esta parte os Lajedos. É terra lançante e a rocha pouco alta, que dá pão e pastel”.
Por sua vez, o florentino José António Camões, num escrito de 1815, informa que a “uma fajã chamada a Costa, que tem muitas vinhas, mas infrutíferas, assim como são todas as da ilha”. Depois, explica que “por dentro do tal ilheo Cartário, ha outro ilheo pequeno e, por dentro deste, uma enseada chamada o Portinho do Lajedo, onde podem varar barcos pequenos, mas só com muita bonança”. Refere ainda a Ermida de Nossa Senhora dos Milagres, “a que concorrem muitos devotos, mas he provavel, que a sua devoção consiste exceptis exceptuandis em levarem os seos violinos, e tocarem e dançarem com as moças, etc.”.
Apesar de existir no lugar do Campanário, desde antes de 1757, uma ermida da invocação de Nossa Senhora dos Milagres, a qual dispunha de confraria própria e era lugar de romaria, o Lajedo manteve-se integrado na paróquia de Nossa Senhora do Rosário da vila das Lajes durante vários séculos.
A paróquia de Lajedo foi criada, por alvará régio de D. João VI de Portugal, datado de 19 de Dezembro de 1823, em resposta a uma petição feita por Manuel Luís de Freitas e outros moradores do Lajedo, que alegavam o maior incómodo e desgosto por não puderam cumprir com os Preceitos Divinos, tanto no estado de saúde como no de doença dado o Lajedo ficar distante da paroquial umas quatro léguas, tendo de passar ribeiras havendo no lugar uma ermida da invocação de Nossa Senhora dos Milagres, com todas as proporções para poder servir de Paróquia. Na altura residiam no Lajedo 200 pessoas, afora as crianças em muito maior número.
Na nova paróquia, delimitada pela Ribeira da Lapa, pelo Rebentão e pela Rocha Alta, foi colocado um reitor como a côngrua de quatro moios e cincoenta e hum alqueires de trigo e oito mil reis em dinheiro e um tesoureiro com a ordinária de um moio de trigo e trez mil reis para hóstias e vinho, a pagar pela Junta da Fazenda da ilha.
Embora se desconheça a data de construção da primitiva ermida do Lajedo, sabe-se que a 6 de Novembro de 1757 foi passado um mandato para nela se realizar um casamento, o que prova ser a mesma anterior àquele ano.[2]
O actual templo foi iniciado em 1868, pelo então pároco, padre Francisco Luís de Freitas Henriques. As obras apenas foram concluídas depois de 1876, pois naquele ano, durante a vista pastoral do bispo de Angra, D. João Maria Pereira de Amaral e Pimentel, foi ordenada a vende de adereços de ouro pertencentes à Senhora dos Milagres para financiar o acabamento do reboco e a construção do retábulo.
O Lajedo dependeu sempre administrativamente do concelho das Lajes da Flores, sendo, até à sua elevação a freguesia autónoma, um lugar da vila sede do concelho. Exceptua-se o período de 1895 a 1898 durante o qual integrou, como as todas as restantes freguesias da ilha, o concelho de Santa Cruz das Flores, por se encontrar suprimido o das Lajes das Flores.
O cruzeiro do Lajedo, construído dentro do espírito triunfalista do Estado Novo, foi inaugurado a 4 de Janeiro de 1952.
A electricidade chegou tardiamente à freguesia, pois apenas a 4 de Fevereiro de 1978 foi inaugurada a rede eléctrica local, deixando então de se utilizar a iluminação com as características lâmpadas a óleo de baleia que durante mais de um século e meio foram ali utilizadas. Apesar disso, desde muito cedo, ainda nos anos de 1940, o empresário José de Freitas Escobar Júnior, dirigente da Cooperativa Agrícola Ilha das Flores, que teve sede no Lajedo, tinha instalado um pequeno dínamo numa ribeira abaixo da freguesia, dispondo de electricidade no seu escritório.
A freguesia do Lajedo orgulha-se justamente de ter entre os seus naturais algumas personalidades de relevo, entre as quais é de destacar:
• José de Freitas Escobar Júnior, um empresário e dirigente cooperativo, pioneiro no sector dos lacticínios, que se destacou como dirigente da Cooperativa Agrícola Ilha das Flores, que administrou durante cerca de 40 anos. Natural do Lajedo, emigrou jovem para os Estados Unidos da América e, mais tarde, para o Brasil. Regressou anos depois, não porque realizasse fortuna, mas para assistir um irmão acometido por doença grave. Acabou por se fixar na freguesia, onde pôs em prática o seu empreendedorismo. Foi Presidente da Câmara Municipal das Lajes Flores entre 1944 e 1946 e, de novo, em 1948. Faleceu em 1986, aos 84 anos de idade, na vizinha freguesia do Mosteiro.
• Francisco Caetano Tomás, natural de Lajedo, licenciou-se em Filosofia e, mais tarde, ordenado sacerdote, em Roma. Cónego da Sé de Angra, foi professor do Seminário Episcopal daquela cidade, professor liceal e afamado orador sacro. É autor de diversas obras publicadas no campo da Psicologia e da Sociologia.